quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A PERDA DO NAVIO-MOTOR ESPANHOL “JUANITA DE CHACARTEGUI”, QUE ENCALHARA NO CABO RASO

Imagens do encalhe do JUANITA DE CHACARTEGUI, distinguindo-se por perto o COMANDANTE PEDRO RODRIGUES /imagens do Jornal de Noticias /.

24/06/1961 – Segundo tudo indica, o cabo Raso acaba de fazer uma nova vítima, o navio-motor Espanhol JUANITA DE CHACARTEGUI, de 396 toneladas brutas, anteontem encalhado naquela zona onde, há anos o paquete Inglês HILDEBRAND encontrou, também o seu fim.
Nas primeiras horas que se seguiram ao encalhe, ainda houve esperanças de salvar o navio, mas depois verificou-se que ficara profundamente encravado, de proa, entre duas rochas, ainda em mais outros dois recifes, aguçados como os primeiros, que furaram o navio.
Primeiramente o JUANITA DE CHACARTEGUI ficou de proa à terra, mas durante a noite de anteontem para ontem, o mar, que esteve, no entanto, calmo, fez rodar a popa em direcção a terra, até ficar a poucos metros da costa. Esta rotação deve ter tido péssimas consequências para os rombos da proa do navio, que fez, deste modo, uma rotação de quase cento e oitenta graus com os bicos das rochas metidos no casco. Aliás, depois desta mudança, o navio ficou adornado, o que até aí não se verificara.
Quando o rebocador da AGPL, SERRA DE PORTALEGRE chegou ao local, pelas 23h30, o navio Espanhol estava já inundado e de tal modo que de nada serviria tentar pô-lo a navegar novamente. O rebocador só ali chegou aquela hora pelas simples razão de que o pedido formal de socorro só foi apresentado na secção adequada da AGPL, pelas 20h30, ou seja cerca de quatro horas depois do encalhe, e como havia serviço no porto a atender, teve de se esperar pela vinda do SERRA DE PORTALEGRE que esteve a trabalhar na recolha dos destroços do quadrimotor a jacto que caiu ao largo da Fonte da Telha, para poder mandá-lo, depois, dar assistência ao navio sinistrado.
Parte da carga do navio – 3.000 contos de bacalhau comprado pelo Grémio dos Armazenistas de Mercearia – já está inundada, e os tanques de combustível, ficaram também arrombados.
Os representantes em Lisboa dos armadores do navio tentarão, agora, recuperar ainda alguma carga e o que puderem do equipamento do JUANITA DE CHACARTEGUI, enquanto os catorze homens da tripulação foram já desembarcados, juntamente com os seus haveres.


O  RMS HILDEBRAND encalhado no lugar dos Oitavos, perto do cabo Raso, a 25/09/1957 / imagem do Século Ilutrado /.

COMENTÁRIOS DO ENCALHE
A zona do cabo Raso com as suas rochas que se estendem pelo mar dentro, à flor da água ou a pequena profundidade e por largos metros, é, de facto, perigosa: e mais ainda quando cai o nevoeiro, como sucedia no momento do encalhe do JUANITA DE CHACARTEGUI e do HILDEBRAND.
No entanto, toda a gente sabe, perfeitamente, pelo menos os que estão ligados à navegação, que assim é, e trona-se difícil de compreender que uma zona reconhecidamente perigosa e, aliás, dotada de um farol com sinais de nevoeiro, continua a causar vitimas.
Quando se deu o encalhe do paquete HILDEBRAND, da Booth Line, de Liverpool, falou-se de possíveis e estranhos desvios que as agulhas magnéticas poderiam sofrer naquela zona, mas a verdade é que os navios modernos dispõem de agulhas giroscópicas que não são sensíveis a influências.
Agora, com o JUANITA DE CHACARTEGUI, foi afirmado pelo seu capitão, sr. Fernando Bilbau, que segundos antes do encalhe observou a sonda eléctrica e esta acusava algumas dezenas de metros de profundidade; e o capitão só soube onde se encontrava quando a proa enfiou pelas pedras. Isto sugere que, a bordo do JUANITA DE CHACARTEGUI, no momento do acidente, não se fazia grande ideia da posição do navio, doutro modo, não teria ele vindo tão direito ao perigo.
O capitão Fernando Bilbau, em declarações aos jornalistas, lançou a responsabilidade do facto de o navio não ter sido salvo por causa do atraso com que chegou ao local o rebocador SERRA DE PORTALEGRE.
Este atraso teria resultado da circunstância de não haver sido compreendido o primeiro pedido de socorro que capitão Espanhol enviou, pela rádio, para a Rádio Naval de Cascais. No entender do capitão Fernando Bilbau, quando o SERRA DE PORTALEGRE chegou ao local do encalhe, já nada podia ser feito de bom, para salvar o JUANITA DE CHACARTEGUI.

NOTA DO AUTOR DO BLOGUE
Numa das imagens distingue-se por perto o vapor/rebocador dos pilotos da barra do Tejo, o COMANDANTE PEDRO RODRIGUES, que fazia estação na baía de Cascais, e normalmente um dos dois vapores dos pilotos eram os que chegavam em primeiro lugar ao local de sinistros na área limítrofe daquela baía, até pela sua localização, e sempre atentos a qualquer emergência, por conseguinte deve ter sido o primeiro a chegar junto do encalhe, mas pelos vistos não pegou no JUANITA DE CHACARTEGUI, e será que não havia mais rebocadores da AGPL, ou mesmo de empresas privadas no porto de Lisboa?!

JUANITA DE CHACARTEGUI (1) – imo 5619486/ 50,5m/ 396tb/ 12 nós; 10/1960 entregue por Astilleros del Abra SA., Bilbau, à Naviera Francisco Chacartegui SA, Bilbau; 23/06/1961 em rota de Pasajes para Lisboa com um carregamento de bacalhau perdeu-se junto so cabo Raso por encalhe devido a nevoeiro, que então se fazia sentir.

Fontes; Jornal de Noticias, Miramar Ship Index.
Rui Amaro              

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