sábado, 4 de agosto de 2012

UMA DIVISÃO DA ARMADA PORTUGUESA SAUDA A RAINHA ISABEL II AO LARGO DAS BERLENGAS QUE VIAJAVA A BORDO DO “HMY BRITANNIA” EM 1954

Isabel II e o Duque de Edimburgo / publicação do Diário da Manhã - 1957 /.

Com o HMY BRITANNIA à vista desarmada, os marinheiros Portugueses erguem as sete saudações do estilo à soberana da Grã-Bretanha / jornal O Comércio do Porto /.

11/05/1954 – Constituíram um grande momento de emoção e tiveram expressivo significado as homenagens prestadas pela nossa Marinha de Guerra em representação do Governo e da Nação à rainha Isabel da Grã-Bretanha que a bordo do iate real HMY BRITANNIA, vindo de Gibraltar de regresso a Londres, ontem passou em águas Portuguesas a NW do pequeno arquipélago das Berlengas.
É a segunda vez que a soberana navega em águas Lusas. A primeira vez foi em 08/02/1947, quando como princesa herdeira acompanhou seu pai na visita que o falecido rei Jorge VI fez à Africa do Sul a bordo do cruzador HMS VANGUARD, que então numa manhã de tempestade passou também à vista das Berlengas.
Desta vez, porém, tudo se passou de maneira diferente e a homenagem de Portugal â soberana da sua mais velha aliada pode revestir-se duma solenidade que há 7 anos mercê do temporal que caiu sobre o Atlântico não foi possível.
No começo da madrugada de ontem largaram de Cascais as fragatas NRP NUNO TRISTÃO e NRP DIOGO GOMES e o contratorpedeiro NRP DÃO com uma guarnição total de 500 marinheiros constituindo a flotilha que sob o comando do almirante Nuno de Brion, comandante-chefe da frota Portuguesa ia prestar à rainha de Inglaterra as homenagens de Portugal. Com o almirante Nuno de Brion seguiam o seu chefe de estado-maior, capitão-de-fragata Guilherme Martins de Magalhães, o comandante Pedro Zilhão e o comandante Norman Todt, adido naval Inglês à embaixada Britânica de Lisboa.
À frente abria a marcha a fragata NRP NUNO TRISTÃO, logo seguida da NRP DIOGO GOMES e finalmente pelo contratorpedeiro NRP DÃO. Cerca da 07h30 a flotilha estava à vista das Berlengas.



Dois dos três vasos de guerra Portugueses que prestaram honras militares à familia real Britânica ao largo das Berlengas, neste caso o NRP NUNO TRISTÃO em cima e o NRP DIOGO GOMES em baixo / Photoship Co., UK e Jornal de Noticias /.

Depois de estar a navegar já a algumas milhas a NNW das Berlengas a flotilha Portuguesa mudou de rumo passando a navegar em direção a sul a fim de se cruzar com o HMY BRITANNIA.
Pouco depois das 08h00 eram içadas as bandeiras Portuguesas a bordo dos nossos navios.
São 09h00 quando vindo do sul surge no céu das Berlengas voando o mais baixo possível um grande quadrimotor da escolta da rainha.
Pouco tempo passado, às 09h30 precisas, da ponte do NRP NUNO TRISTÃO avista-se o iate real.
A bordo dos três navios Portugueses começa dentro de pouco tempo a formação das guarnições.
Quando a flotilha estava a uma milha do HMY BRITANNIA foi içado nos mastros dos três navios Portugueses o pavilhão nacional Britânico.
As duas forças navais, o iate real e a sua escolta e a flotilha Portuguesa reduzem a marcha. Está-se a 18 milhas a NW das Berlengas.
O encontro entre as duas formações estava marcado para as 10h00. Cinco minutos antes, ou seja, às 09h55 soa o primeiro tiro de salva a bordo da NRP NUNO TRISTÃO.
Os marinheiros posicionados na tolda e nas sobrestruturas da ponte e da artilharia erguem os bonés e gritam os sete vivas da ordem.
São 10h00. O iate real passa então pelo través de bombordo. O espetáculo assume então grande imponência e solenidade.
Foi então, que numa magnífica e perfeita manobra sob as ordens do comandante Pedro Zilhão, a nossa força naval passou apenas a cem metros do HMY BRITANNIA.
Então à vista desarmada. Vê-se claramente num dos extensos “spardecks”, junto ao mastro da mezena, a figura da rainha ladeada pela princesinha Ana e pelo loiro príncipe Carlos, junto dos quais se destaca a figura esguia e distinta do duque de Edimburgo.
A rainha vestia um casaco beije pondo na cabeça um lenço de seda cinzento e acenava constantemente em saudação amiga e agradecida aos marinheiros Portugueses. A seu lado o príncipe Carlos e a princesa Ana envergam casacos verdes e gorros da mesma cor. Encostados à balaustrada acenam também aos nossos marinheiros.
Por sua vez o duque de Edimburgo à paisana e em cabelo saúda também os nossos navios.
A banda de música do iate, muito bem alinhada e de instrumentos reluzentes, ataca o “Rule Britannia”. Na ponte do navio, em continência, hirtos, vão o almirante Abel Smith e toda a casa militar da rainha.
Entretanto o comandante da nossa flotilha, almirante Nuno de Brion expede para bordo do HMY BRITANIA a seguinte mensagem para a rainha Isabel II:

«O Governo Português e a Armada Nacional com grande respeito e estima têm a honra de aproveitar esta oportunidade de saudar Sua Majestade nas águas Portuguesas apresentando a Sua Majestade e aos membros da família real que a acompanham os melhores votos pela continuação feliz da sua memorável viagem».

E prossegue o desfile da escolta do HMY BRITANNIA, o cruzador HMS GLASGOW, os contratorpedeiros HMS DUCHESS, HMS SAINTES e HMS BARFLEUR.
Momentos depois chega a bordo do NRP NUNO TRISTÃO a mensagem de agradecimento dirigida ao Presidente da Republica, do seguinte teor:

«Agradeço sinceramente a V.Exa., e aos membros do Governo Português a amável mensagem que nos foi transmitida pelo almirante comandante chefe da Força Naval da Metrópole.
Apreciei profundamente o aparecimento da eficiente Força Naval que veio esta manhã ao meu encontro, esperando que V.Exa., faça ciente o almirante da entusiástica admiração de meu marido e minha pela esplendida apresentação dos seus navios e das suas guarnições – a) Elisabeth, R.»

Momentos depois as duas formações começam a afastar-se. Estava terminada o interessante e histórico espetáculo em que Portugal afirmará mais uma vez o seu respeito pela soberana de nação que é a nossa mais velha e querida aliada.
Era desejo do Governo Português que duas formações das bases aéreas nºs 3 e 4 fossem também ao encontro do HMY BRITANNIA saudar a rainha de Inglaterra.
Essa resolução ficou, porém, sem efeito, porque um avião saído de manhã e que apenas por radar localizou cerca das 09h00 aquele navio e respectiva escolta, verificou que as condições atmosféricas não o permitiam.
O chefe do Estado Maior da Força Aérea Portuguesa transmitiu para bordo do HMY BRITANNIA a seguinte mensagem:

«Lamento ser obrigado a cancelar o voo devido às condições meteorológicas, mas peço o favor de endereçar a Sua Majestade os nossos melhores cumprimentos de boa viagem»


O HMY BRITANNIA navegando junto da costa Portuguesa em 1968 / cortesia de Petroc, SN /.

HMY BRITANNIA – imo 6123244/ 125,7m/ 5.769tb/ 12.000hp/ 21,5kn/ autonomia 2.000mn/ guarnição 298 elementos dos quais 19 eram oficiais; 14/01/1954 entregue por John Brown & Co., Clydebank, à Marinha Real Britânica como iate da família real Britânica, em especial da Rainha Isabel II, sendo o 83º navio a servir a monarquia desde a coroação de Carlos II em 1660. E substituiu o velho HMY VICTORIA AND ALBERT. Transportou a família real em várias viagens oficiais durante mais de 30 anos, entre as quais a Portugal, Setúbal/Lisboa.
O HMY BRITANNIA foi, como acima se relata, construído no Clydebank, e lançado oficialmente a 16/04/1953 pela rainha Isabel II, se bem que chegou a existir um projecto de um novo iate real em 1936. O seu projecto inclui três mastros: o mastro de vante de 41m, o mastro principal de 42m, e o mastro de ré de 36m. Curiosamente, o iate real foi também delineado para ser convertido em navio-hospital durante uma eventual situação de guerra.
Durante a sua carreira como iate real, o HMY BRITANNIA transportou a família real em 696 visitas em território da “Commonwealth”, totalizando 1.087.623 milhas navegadas. Em 1959, realizou uma das suas maiores derrotas, atravessou, o então recém inaugurado canal de São Lourenço, durante uma viagem para Chicago, fazendo da rainha o primeiro monarca Britânico a visitar a cidade. O presidente Dwight D. Eisenhower também embarcou no navio junto à família real. Anos depois os presidentes Gerald Ford e Ronald Reagan também se acomodariam no iate real.
Em 1997 foi retirado do serviço, devido aos altos custos de manutenção e às dificuldades económicas que começavam a surgir na Grã-Bretanha, se bem que uma nova construção esteve para ser projectada, tendo seguido de Portsmouth para Leith, Edinburgh, Escócia, onde se encontra como navio museu, aberto ao público.   

Fonte: Jornal O COMÉRCIO DO PORTO, Wikipedia, Miramar Ship Index
Rui Amaro

PS – Na visita que os Soberanos Britânicos realizaram a Portugal em 02/1957, mais propriamente à cidade Invicta a 21, depois das cerimónias oficiais no Palácio da Bolsa do Comércio do Porto, e na visita à Feitoria Inglesa, na zona do Infante, Isabel II e seu marido, o príncipe Filipe, romperam com o protocolo, e em lugar de viajarem para o aeroporto de Pedras Rubras num luxuoso “Chevrolet” cedido pelo grande industrial Nortenho Delfim Ferreira, preferiram ser transportados numa velha camioneta aberta de transporte de forças da PSP, segundo consta como homenagem à efusiva manifestação, que a população Nortenha lhe prestou, a qual ainda há poucos anos o seu filho Carlos fazia lembrar.
E assim, a comitiva régia seguiu pela marginal do Porto e Matosinhos, a caminho do aeroporto de Pedras Rubras, a fim de tomar o avião para Londres, e eis que quando o “veículo real” passava na rua da Senhora da Luz, à Foz do Douro, mais propriamente no nº 437, e o meu avô Manuel Picarote, já de idade bastante avançada e muito debilitado, da janela de sua casa, arremessa um pequeno ramo de flores, que foi apanhado pela Rainha, e não é que Filipe de Mountbaten, pede ao motorista para parar, e apeando-se da camioneta dirige-se ao meu avô e devolve-lhe o ramo de flores, e dizendo um muito obrigado em Português, mais algumas palavras em língua inglesa, que como é obvio, o meu avô não entendeu. Pois o meu avô Picarote não mais esqueceu tão inesperado episódio.   
  
A camioneta aberta de transporte de forças da PSP que serviu de "veículo real" aos soberanos Britânicos na sua ida do Porto para o aeroporto de Pedras Rubras, mostra-se aqui transportando estudantes universitários de regresso ao Porto, após homenagem no aeroporto à rainha e ao príncipe consorte./ jornal Diário do Norte /.

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