domingo, 16 de janeiro de 2011

O "ANA MARIA" – O ÚNICO LUGRE BACALHOEIRO Á VELA NA CAMPANHA DE 1957 E "MENINO QUERIDO" DA PRAÇA DO PORTO

O ANA MARIA em manobras de amarração à lingueta do Bicalho, Massarelos, quando da sua primeira campanha, 1941, pelo armamento da praça do Porto / foto de autor desconhecido - colecção F. Cabral /.


A 17/04/1957 saiu da barra do Douro o lugre ANA MARIA, um lugre bacalhoeiro que toda a gente conhecia, e ainda hoje lembrado, pois era um verdadeiro símbolo bastando dizer-se que era o único navio da pesca do bacalhau que não era equipado com motor auxiliar, navegando sempre à força do vento, o único "combustível" que "abastecia" o seu velame.

Quando o ANA MARIA regressava da sua faina, era mais do que certo que tinha um numeroso público a esperá-lo, constituído, não só pela família e amigos dos tripulantes e pescadores e pelos seus armadores, como também pelos amadores fotográficos, que ali iam levados pelo desejo de recolher a imagem do belo e alvinitente navio com as suas velas enfunadas, confundindo-se com uma enormíssima ave marinha.

Desde alguns dias que já havia noticias da largada do ANA MARIA dos mares do grandes bancos da Terra Nova – 21/03 – e pelos cálculos feitos já ele deveria ter chegado. No entanto como os ventos foram um pouco desfavoráveis, retardaram-lhe a viagem e só a 09/09 ele foi avistado a Noroeste da barra do Douro, como não poderia deixar de ser, de velas desfraldadas, e tendo o vento de feição, em pouco tempo estava à barra. Recebido o prático, e estabelecida a amarreta com o rebocador VANDOMA, e ferrado o pano, fez-se à barra.


O ANA MARIA demanda a barra do Douro a reboque do VANDOMA a 09/09/1957 / foto de Rui Amaro /.


O ANA MARIA foi acompanhado por terra enquanto subia o rio até à amarração, no lugar do cais das Pedras, Massarelos, por muita gente, que o fora aguardar á barra, e pelo rio seguido por bateiras do centro piscatório da Afurada, dado que da companha faziam parte pescadores daquela localidade Gaiense.

Depois das manobras de amarração, auxiliadas por uma lancha dos pilotos, da visita a bordo dos agentes da Sanidade Marítima, Policia Marítima e Policia Internacional, foi autorizado o desembarque dos tripulantes e pescadores, dando-se como sempre as cenas de franca alegria entre eles e as pessoas de família e amigos.

O ANA MARIA, "Menino Querido" da praça do Porto, que trazia de lotamento 38 homens dentre tripulantes e pescadores, era pertença dos armadores Veloso, Pinheiro & Cia. Lda., da Avenida dos Aliados e comandado pelo capitão Joaquim Agonia da Silva, de Vila do Conde, e tinha como piloto, o capitão José Fernandes Pereira, mais conhecido por "Zé Lau", um pequeno corpo mas grande na coragem para quem o mar não tem segredos e que dizia querer tanto ao ANA MARIA como se ele fosse mesmo seu, pois nele passara muitas campanhas e muitos anos de vida.

Da equipagem do ANA MARIA que trazia um carregamento completo, apenas adoeceu um moço, mas não fora coisa de cuidado.

Terminada a descarga no lugar do cais das Pedras, o "velho lugre" cambou, também auxiliado por um rebocador para o Quadro dos Navios Bacalhoeiros, Massarelos, afim de hibernar e iniciar os fabricos para a próxima campanha da "Faina Maior", sem que antes os pilotos não deixassem de ter o necessário cuidado de reforçar as suas amarras, tanto para o rio como para terra, afim do lugre suportar eventuais cheias no rio ou qualquer ciclone, como já ocorreu na década de 40 com ele e com os seus companheiros de ancoradouro, que garraram e andaram uns contra os outros, e o PAÇOS DE BRANDÃO afundou-se mesmo.

ANA MARIA – 50,86m/ 270,64tb/ 5.058 quintais/ 9 tripulantes/ 29 pescadores; 1873 construído pelos estaleiros Dundee Shipbuilding & Co., Dundee, como ARGUS para William Thomson, Dundee; 1885 ARGUS (1), Bensaúde & Cia, Lisboa, comprado pela importância de 13.500$000 reis; 1891 ARGUS (1) Parceria Geral de Pescarias, Lisboa, transferido para empresa parente, conservando sempre o mesmo nome; 1924 reconstruído, mas nunca chegou a ser equipado com motor auxiliar; 1941 ANA MARIA, Veloso, Pinheiro & Cia., Lda., Porto, comprado por 215.000$00, continuando na indústria da pesca do bacalhau; 08/09/1958 ANA MARIA, naufragou com água aberta, quando no termo da campanha se preparava para rumar à Pátria, contando a bonita idade de 85 anos, 73 dos quais sob as cores nacionais de Portugal e 18 ao serviço do armador Portuense, salvando-se toda a tripulação que fora recolhida por dois arrastões Espanhóis.

Consta que fora construído para "Royal Navy" como navio-escola denominado HMS ARGUS, nome muito utilizado pela Marinha de Guerra de Sua Majestade Britânica, contudo pelas minhas pesquisas não encontrei nada que o confirmasse. Agora poderá ser que tivesse sido fretado ao seu armador Escocês para essa função.

Fontes: Jornal de Noticias

Rui Amaro

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