quinta-feira, 24 de junho de 2010

PEDIDO DE ESCLARECIMENTO



ESTAÇÕES SEMAFÓRICAS MARÍTIMAS


Farol de Nossa Senhora da Luz e a Estação Semafórica Marítima da Foz do Douro /litografia antiga de autor desconhecido /.


Em 1 de Dezembro de 1865 principiou em Lisboa o SERVIÇO QUOTIDIANO DE PREVISÃO DO TEMPO com elaboração de um boletim que era distribuído aos jornais diários. Aos anúncios de mau tempo ou temporal correspondia o içar dos respectivos sinais nas estações semafóricas do Arsenal de Marinha, Viana do Castelo, Nossa Senhora da Luz (Foz do Douro), Cabo Carvoeiro, Oitavos, Cascais, S. Julião da Barra, Cabo Espichel e Sagres.

Existirá alguma entidade no nosso país que tenha arquivos dos funcionários que passaram nas estações semafóricas marítimas de Portugal Continental em finais do século XIX e que possa dar informação relativa a um chefe de estação?

Fica-se grato a quem possa esclarecer.

Rui Amaro

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A PRESENÇA DO LORDE AMERICANO “BRENDAN’S ISLE” NO PORTO DE VIANA DO CASTELO EM 1968


ÀS 15H15 de 22/10/1968, entrou a barra do porto de Viana do Castelo sem a presença de piloto da barra, um lindo lorde de matricula Americana, e que traz a bordo um casal. A embarcação de recreio, que era de Nova Jersey, mostra no costado as palavras “BRENDAN’S ISLE – SOUTH ORANGE”.

Os dois tripulantes apresentaram os seus documentos às autoridades marítimo-portuárias, e desembarcaram mais tarde; o lorde ficou ancorado no anteporto, onde sofreu as inclemências do mau tempo. O casal que o tripulava era o comandante da NAVY e proprietário do iate, Commander Carl Hirschberger e sua esposa Lenice K. Hirschberger. O iate procedia de Baiona, Galiza, e do porto Minhoto, seguiu para o de Leixões.

Fonte e imagem: Jornal O Comércio do Porto.

Rui Amaro

RECORDANDO O LORDE INGLÊS “PHRYNA” EM DIFICULDADES QUANDO SE FAZIA Á BARRA DO PORTO DE VIANA DO CASTELO


O PHRYNA manobrando para ser varado na lingueta do salva-vidas /jornal O Comércio do Porto /.


01/12/1968, navegando à vela, sob muito mau tempo, foi avistado, cerca das 17h00, em frente ao bairro dos Pescadores, um lorde*, que se aproximava perigosamente da penedia que limita a costa em toda essa extensão, a Norte do litoral Vianense. Os habitantes do bairro, ao verem a embarcação aproximar-se da penedia, pressentiram desgraça, e assim, saíram todos para a rua em alta gritaria, tentando fazer-se ouvir a bordo do iate de recreio. Isso porém, era impossível, porquanto o barulho do mar e a ventania, além da escuridão que se aproximava, nada permitia ouvir; foi então que um habitante do bairro Leopoldo de Araújo, tomou o expediente de se munir dum lençol e com ele começou a fazer sinais que parece terem sido vistos de bordo, porque o lorde*, imediatamente começou a afastar-se da costa, rumando a Sul. Entretanto, os pilotos da barra eram avisados do que sucedia, isto porque da respectiva torre de vigia não se avistava o local do acidente; e o cabo-piloto Agostinho Vieira, subindo ao alto da torre, apercebeu-se de o iate de toda a maneira corria grave risco, porque a tempestade era violenta e a barra estava perigosíssima; só com ajuda do salva-vidas seria possível meter a embarcação dentro do porto.



O salva-vidas ALMIRANTE FERREIRA DO AMARAL na Fuzeta / (c) cortexia do patrão do salva.vidas da Fuzeta /.


Assim, tomou imediatas providências para que o salva-vidas ALMIRANTE FERREIRA DO AMARAL saísse a barra. Para tanto convocou o seu mestre, Patrão António Rodrigues e o respectivo motorista, e procurou, também alguns voluntários, que iriam ser precisos para guarnecer o barco, numa tal emergência. Prontamente se ofereceram para a perigosa missão, Napoleão Peres, seu irmão Nelson Peres e Mário da Guia, todos marítimos deste porto: e passados poucos minutos aquele barco, que em 31/10/1960 fora protagonista de naufrágio na barra, e que perdera a vida o Patrão César Martins e mais dois voluntários, era lançado á água, rumando á barra. Era seu propósito sair a barra pelo Sul e ir dar reboque ao iate. Este, porém, enquanto navegava para Sul, descobriu a entrada da barra, quando se encontrava um pouco a Sul do Bugio, e surpreendentemente, resolveu enfiar direito ao porto, passando nos perigosos baixios da “Robaleira” e “Camalhões”, não manifestando conhecimento das torres que marcavam a entrada da barra e que lhe facilitariam a manobra, aliás sempre muito perigosa com o tempo que estava; o acesso natural seria pelo Sul. Em certa altura, o iate deve ter embatido nas pedras denominadas “Parede” e abriu água que os tripulantes começaram a esgotar da maneira possível. De terra a manobra do lorde* era seguida com bastante espanto e ansiedade, causando vivas apreensões de, a todo momento, se desfazer nas rochas. Mas milagrosamente, o perigo das pedras foi transposto, na altura em que o barco salva-vidas postado na embocadura da barra, se preparava para o pior. O iate saindo das pedras, guinou perigosamente para a “Tornada”, outro baixio de areia muitíssimo perigoso na situação que o barco se encontrava e dada a violência da rebentação. Aí novamente o perigo de naufrágio esteve á vista, mas uma vez mais agora com a ajuda do salva-vidas e já com o prático Agostinho Vieira a bordo, ele se safou e, enfrentando agora a entrada do anteporto, pouco depois ficava liberto de perigo, rumando á doca comercial, já com bastante água a bordo.

Entretanto o comandante Fernando Miranda Gomes, capitão do porto, que se inteirara pessoalmente do sinistro, dera ordens para que fosse prestada toda a assistência ao iate e tripulantes; uma motobomba dos Bombeiro Municipais, requisitada, foi sem demora instalada no lorde*, e começou a tarefa violenta de evitar o seu afundamento, até que outras providências fossem tomadas. De facto, às 14 horas do dia 2, sempre com a motobomba esgotando a água, o iate foi trazido da doca comercial para a de marés e ai levado para a lingueta do salva-vidas, a fim de ficar em seco e poder então apreciar-se da amplitude das avarias no leme, o que requer maiores cuidados, dado que é uma embarcação que só navega à vela, tendo apenas um pequeno motor de emergência e de manobras.



O prático Agostinho Vieira dirigindo as manobras de atracação do PHRYNA / jornal O Comércio do Porto /.


O iate, todo em madeira, era o PHRYNA, de nacionalidade Inglesa. Era seu proprietário o capt. P. M. Grayson Smith, e constituia a tripulação seu filho, L. M. Grayson Smith , o pai de 43 anos, o filho de 19; e mais duas jovens de nacionalidade Inglesa, Valey Holman e Ben Wate; uma Americana Anne Kiggel; e mais dois jovens James McElveen, Inglês e Charles Cluterbuck, Americano. Tudo gente muito nova e que segundo certas palavras proferidas, iam emigrar para a África do Sul ou Austrália. O barco vinha de Falmouth e o seu próximo destino era as Ilhas Canárias. Falando-se do acidente com o capitão do porto, este manifestara a sua estranheza pela ignorância do capitão em ter feito a manobra que fez; essa opinião, de resto, foi corroborada pelos pilotos da barra. A entrada da barra, quando fosse feita na direcção que o iate o fez, deveria sê-lo pelo enfiamento de duas torres – uma branca e outra vermelha implantadas no Cabedelo, e que encarreiravam as embarcações por entre os baixios referidos, sem qualquer perigo. Vinham assinaladas nas cartas internacionais. Mas, no estado em que o mar estava, o capitão teria somente que esperar a chegada da lancha salva-vidas, pois esta lhe indicaria o caminho. Verificou-se que a bordo, houve pânico e tanto que o capitão e os tripulantes, quando chegaram a terra, vinham num estado de depressão visível, impressionante, os seus rostos davam vem nota do medo que deles se apossou, ao verem a frágil embarcação de vinte metros de comprimento, barco de madeira, borda bastante baixa – ao sabor da tempestade, com água aberta e avaria no leme. O capitão do barco declarou que fora ele mesmo o construtor, destinando-o a ir para terras longínquas procurar trabalho.


* Lorde – nome dado, ainda mesmo no passado recente, aos iates de recreio ou de desporto, que normalmente eram propriedade de grandes Senhores ou ricaços, e uma vez que naquele tempo não estavam equipados com os meios técnicos de navegação, nomeadamente GPS, como actualmente, essas embarcações demandavam os portos sob a orientação de piloto da barra embarcado.


Fonte: Jornal “O Comércio do Porto” 03/12/1968.

Rui Amaro