quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O IATE-MOTOR “EDUARDO XISTO” E OS SEUS DOIS ACIDENTES EM ÁGUAS DE PENICHE/BERLENGAS


O EDUARDO XISTO recebendo carvão em pó transportado no tipicos "rabões negros" desde as Minas do Pejão, Castelo de Paiva, no lugar da Carbonifera, margem de Vila Nova de Gaia, década de 50 /(c) Colecção João José Passos - Viana do Castelo /.


07/10/1952 – Sob o comando do mestre José Cadilha, de alcunha Zé Palouca, um Vianense da Ribeira de Viana, navegava de Setúbal para o Douro sob nevoeiro cerrado, transportando cerca de 160 toneladas de cimento, quando, inesperadamente embateu numas pedras das Berlengas.

Dado o alarme, e como o porto de Peniche estava ali a pouca distância, aquele experimentado mestre fez rumar de imediato o navio àquele porto, pelos próprios meios, enquanto a tripulação tentava estancar a água, acabando por demandar o porto, ligeiramente metido de proa, e tendo procedido logo à descarga de parte da carga.

A situação do iate-motor, era melindrosa, apesar da carga não se considerar perdida, pois que o rombo era de grandes dimensões, o que tornou difícil a sua reparação em Peniche.
Mais tarde recebeu reparações provisórias, e alguns dias depois veio para o rio Douro, julgo a reboque, a fim de descarregar o cimento ensacado, e subir à carreira do estaleiro de Tomás F. Lapa, Vila Nova de Gaia, para reparações finais.

O mestre José Cadilha, já em Outubro de 1947 encalhara junto ao Cabo Carvoeiro, também devido ao nevoeiro, o lugre-motor SANTA MADALENA, da praça de Viana do Castelo, que se perdeu, pelo que passou a considerar azarenta a sua passagem pelo canal da Berlengas. Também a 31/01/1951, ao mar de Espinho e sob mau tempo, ficou com o iate-motor MAR NOVO, de seu comando, completamente desarvorado, arribando a Leixões, pelos próprios meios, sem mais percalços.


O SANTA MADALENA /(c) Colecção João José Passos - Viana do Castelo/.

16/12/1958 – Sofreu um segundo acidente, já sob o comando do capitão João Gonçalves Muchacho, quando em viagem de Setúbal para o Porto com um carregamento de sal, e que arribara a Peniche, a fim de se abrigar do temporal que o surpreendera em pleno mar.

Porém, por se lhe terem rebentado as amarras devido ao vento tempestuoso e á ressaca, foi de garra acabando por encalhar na praia Sul, tendo a sua tripulação, graças à prontidão com que foi assistida pelo salva-vidas ALMIRANTE SOUSA E FARO e pelo Bombeiros locais, nada sofreu, e conseguindo retirar parte dos seus haveres. Julgo que por lá ficou até ser adquirido pelo armador Casimiro Augusto Tavares.


O EDUARDO XISTO encalhado em Peniche a 16/12/1958 /(c) colecção Couto Hermano - Peniche /.


EDUARDO XISTO, 29,67m/107,49tb; 1x motor 1D-3cl. -150BHP-120BHP MAN-Maschinenfabriek, Augsburg, 1936; 06/06/1947 entregue pelo estaleiro Tomás F. Lapa, lugar da Cruz, Vila Nova de Gaia, ao armador Eduardo Beltrão., Lda., Porto., que o empregou na navegação costeira internacional (NCI), particularmente no tráfego costeiro entre os portos continentais, especialmente transportando carvão em pó das Minas do Pejão, que era baldeado dos típicos e negros “rabões do Douro” no lugar da Carbonífera, margem de Vila Nova de Gaia, e ainda cimento ensacado e sal, entre Porto, Lisboa e Setúbal, tráfego que teve continuade como CARLOS AUGUSTO.


O CARLOS AUGUSTO saindo a barra do Douro em 1969 / (c) foto de Rui Amaro /.


1964, supostamente devido a dificuldades de origem financeira do armador Portuense, acredita-se que o navio tenha siso hipotecado pela Caixa Geral de Depósitos, já que o seu nome aparece no Lloyds Register of Shipping ligado à Companhia de Seguros Tranquilidade, a qual terá sido portanto, a promotora da respectiva venda em hasta pública; 21/01/1964 CARLOS AUGUSTO, Casimiro Augusto Tavares, Setúbal, armador este que o transformou em lanchão-motor, --m/120tb, apenas um mastro e sem gurupé; 1973 sem rastro a partir desse ano.


O CARLOS AUGUSTO demandando a barra do Douro em lastro a 21/04/1968 /(c) foto de Rui Amaro /.


Tanto o EDUARDO XISTO como o CARLOS AUGUSTO, além do motor auxiliar utilizavam velas latinas, e era uma maravilha vê-los saírem do rio Douro e rumarem a Sul em ocasiões de Nortadas à escota larga, e em pouco tempo desapareciam lá para os lados do mar de Espinho.

Fontes: Imprensa diária e regional; Lista dos Mavios Mercantes Nacionais e Lloyds Register of Shipping.

Rui Amaro