sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

« NAVIOS DE PAVILHÃO PORTUGUÊS ATACADOS OU AFUNDADOS POR UNIDADES NAVAIS OU AÉREAS BELIGERANTES EM CONSEQUÊNCIA DO CONFLITO MUNDIAL DE 1939/1945 » (5)


SANTA IRENE –
ex Português SANTA IRIA, ex Alemão ANGELN, ex Alemão AGNES KOLB, ex Holandês B.W.FLongo curso – 1921 – 53m/520tb – Companhia Industrial Portuguesa, Lda. – Lisboa.


O vapor SANTA IRENE exibindo a sinalização da sua neutralidade, no inicio do conflito /(c) foto de autor desconhecido - Col. F. Cabral/.


Na madrugada de 13.04.1943 o vapor SANTA IRENE, sob as ordens do Cmte. Manuel dos Santos Marnoto, de Ílhavo, foi atacado e afundado a tiro de canhão por um submarino não identificado, entre a ilha de Córsega e a de Elba. Entretanto de acordo com Jurgen Rohwer, no seu excelente trabalho intitulado “Chronik des seekrieges 1939/45, Mittelmeer”, provavelmente após consulta do diário de bordo no final da guerra tenha apurado, que o autor da tragédia fora o submarino Inglês HMS TAURUS comandado pelo Lt.Cdr. Mervyn R. G. Wingfield, D.S.O. R.N.J.
O SANTA IRENE que saíra de Génova, para onde levara um carregamento de trigo destinado à Suiça e carregara carga geral para Portugal, cujo totalidade seria completada em Civitavecchia e daí rumaria a Lisboa, navegava com todas as luzes regulamentares e mostrava a sinalização convencional da sua nacionalidade neutral. De súbito, a tripulação foi alertada por tiros de canhão de um submarino, que a coberto da noite não se identificava e alvejava o pequeno vapor, com sanhas de crueldade, o qual não resistindo ao ataque, afundou-se em poucos minutos, não dando tempo a arriar as baleeiras salva-vidas, que entretanto se iam destruindo. Desse ataque ignóbil, cujo motivo só se entende, que tenha sido possível devido a um provável e infeliz equivoco, foram para o fundo do mar 17 elementos da tripulação e um passageiro, salvando-se apenas um tripulante, que fora encontrado no meio do mar e resgatado por um navio-hospital Italiano.
Lt.Cdr. Mervyn R.G. Wingfield, D.S.O., R.N.J., natural da Irlanda, reformou-se em 1962 e faleceu a 15.03.2005 com a idade de 94 anos, após ter passado por vários comandos e cargos navais, além de ter exercido as funções de oficial da marinha mercante. Foi protagonista de várias façanhas da luta submarina da 2ª guerra mundial, tendo sido com o HMS TAURUS, o primeiro comandante da “Royal Navy” a afundar um submarino da Marinha Imperial Japonesa, o I-34, ao largo de Penang, estreito de Malaca, a 13.11.1943, o qual se dirigia à Europa transportando um importante carregamento de mercadoria imprescindível ao esforço de guerra Alemão. Um junco local salvou 13 elementos da equipagem de 84 homens. Salvaram-se também cinco passageiros, dentre os quais um almirante, que tinham decidido viajar por caminho-de-ferro desde Singapura até Penang, onde embarcariam no I-34 para a Europa.
Na manhã seguinte o HMS TAURUS foi perseguido pela lancha caça-submarinos Japonesa No. 20, que o atacou com cargas de profundidade, obrigando-o a submergir ficando preso na lama, porém graças à vibração das cargas de profundidade conseguiu safar-se e vir à superfície e atacar a No.20 com o seu canhão de convés, infringindo-lhe danos graves. Perante a aproximação de um ataque aéreo Nipónico, submergiu, apressadamente conseguindo escapulir-se a salvamento. Uma outra versão dá a No. 20, que era a escolta do I-34 como afundada.
Participou no raide a St. Nazaire em 27/28.03.1942, quando uma prudente navegação foi necessária para guiar o contratorpedeiro HMS CAMPBELTOWN e as lanchas rápidas torpedeiras da força de intervenção através de bancos de areia e baixios de lodo, com o seu submarino HMS STURGEON evitando as baterias Alemãs e orientando a força de intervenção com a luz verde do periscópio, servindo de baliza, até alcançar o “Point Z”, onde o contratorpedeiro, antecipadamente preparado, completamente armadilhado com cargas explosivas se lançou sobre a comporta da enorme doca seca, destruindo-a. Essa doca seca da costa europeia do Atlântico, que era a única com capacidade para ser utilizada por alguns couraçados pesados Alemães, como TIRPITZ, jamais foi recuperada e muito menos utilizada pelas forças do “Eixo”.
Na luta, que entretanto se desenrolou houve um enormíssimo número de baixas, entre Alemães e Britânicos. Grande parte dos elementos da força de intervenção regressou a Inglaterra nas embarcações de apoio, contudo muitos foram feitos prisioneiros dos Alemães, entre os quais o comandante do HMS CAMPBELTOWN. Dois comandos conseguiram escapar, cruzando território Francês inimigo alcançando Gibraltar através da Espanha.
Penetrou em fiordes da Noruega danificando e afundando vários navios inimigos e num porto do mar Egeu, à superfície, entrou com o seu submarino, afundando vários navios e quando começou a ser atacado, apressadamente submergiu e abandonou o porto.
Apesar de todas essas façanhas realizadas por aquele comandante, pena foi ter atacado e afundado um navio de uma nação neutra, há séculos aliada do seu próprio país, a “Grand Albion” e não ter prestado a devida assistência a companheiros de mar inocentes, que nada tinham a ver com as lutas entre beligerantes.
O HMS TAURUS foi cedido por empréstimo em 1948 à Real Marinha de Guerra Holandesa, tendo seu nome sido alterado para DOLFIJN. Em 1953 regressou à “Royal Navy” adquirindo o seu primitivo nome e após ter sido desactivado foi vendido em 1960 à firma Clayton & Davie, Ltd., que o fez seguir para Dunston-on-Tyne onde foi desmantelado para sucata. O Lt.Cdr. Wingfield sobreviveu à guerra.
O SANTA IRENE foi construído em 1921 pelo estaleiro Holandês Gebr. Fikkers, Martenshoek, sob o nome de B.W.F. para esse próprio estaleiro, que em 1923 fez aumentar o seu porte, passando de 50m f.f./443tb para 53m f.f./520tb. Em 1924 foi vendido a um armador não identificado, que o baptizou de AGNES KOLB, o qual por sua vez o disponibilizou em 1928 ao poderoso armador Reederei Robert M. Sloman, Hamburgo, tomando o nome de ANGELN. Ainda em 1928 veio para Portugal comprado pela Empresa Veleira de Transportes., Lda., Lisboa, que o registou sob o nome de SANTA IRIA, contudo em 1930 foi adquirido pela Empresa Industrial Portuguesa, Lisboa, que lhe deu o nome de SANTA IRENE e o conservou até ao seu afundamento.
O SANTA IRENE, que sob pavilhão português foi utilizado no tráfego do norte da Europa e Mediterrâneo, sofreu uma violenta colisão com o paquete português QUANZA em 1931, que lhe desmembrou a proa pela amura de bombordo.


O estado em que ficou a proa do vapor SANTA IRENE, que se mostra atracado no porto de Lisboa, após a colisão do paquete QUANZA, ano de 1931 /(c) foto de autor desconhecido - col, de F. Cabral/.


http://home.cogeco.ca/~gchalcraft/sm/taurus.html
http://www.combinedfleet.com/I-34.htm
http://www.mikekemble.com/ww2/britsubsturgeon.html
http://www.stnazairesociety.org/Sections/cambeltown.html
http://www.naval-history.net/WW2Ships-Campbeltown.htm
http://navalwarfare.blogspot.com/2008/10/uss-buchanan-dd-131hms-campbeltown.html


PÁDUA – ex português SANTO ANTÓNIO, ex inglês TEECO – Longo curso – 1925 – 56,23m/664,96tb – Empresa Marítima do Norte, Lda., Porto.


O vapor PADUA atracado no porto de Lisboa, no inicio do conflito, exibindo as marcas da sua neutralidade /(c) foto de autor desconhecido - col. F. Cabral/.


A 27.10.1943, o vapor PÁDUA navegava em pleno Mediterrâneo, na sua 17ª viagem com destino a Marselha, fazendo a aproximação àquele porto, quando a 22 milhas, sem que nada o previsse, subitamente foi sentida uma enorme explosão à popa, que se supôs ter sido devida ao choque com alguma mina à deriva, dando origem ao seu afundamento.
Embora conste, que seis homens pereceram no naufrágio, a minha fonte relata que a totalidade da equipagem foi salva nas duas baleeiras do próprio vapor e auxiliada pelo barco de pesca francês LES QUATRE FRÉRES, cujo mestre a fez chegar ao pequeno porto pesqueiro de Sausset-les-Pins da “Cote d’Azur”, onde a população lhes prodigalizou toda a assistência. Os tripulantes foram depois conduzidos a Marselha, que distava 36km daquele centro piscatório, onde algum tempo mais tarde embarcaram no vapor português LOBITO da C.C.N., que os trouxe para Lisboa.
Aquele vapor encontrava-se ao serviço da Cruz Vermelha Internacional no transporte de socorros, encomendas e correspondência para as vitimas e prisioneiros de guerra, juntamente com os vapores portugueses AMBRIZ, COSTEIRO, TAGUS e ZÉ MANÉL. O primeiro realizara em Setembro de 1942, sem ter sofrido qualquer percalço, a sua 100ª viagem através do Mediterrâneo ao serviço daquela benemérita associação.
O PÁDUA, 56,23m/664,96tb, que possuía um só mastro, cujos paus de carga serviam dois porões, tinha as superstruturas situadas à ré e fora construído em 1925 pelo estaleiro Norddeutsche Union Werke A.G., Tonning, Alemanha para o armador Sir Walter Steamship Co., Ltd. (Turner, Edwards & Co., Ltd. - gestores), Bristol., que o baptizou com o nome de TEECO e era um frequentador assíduo dos principais portos portugueses. Em 1934 foi adquirido pela Empresa Marítima do Norte., Lda., Porto, na qual a C.C.N. possuía interesses, tendo sido colocado na linha do norte da Europa e encetado a viagem para o Douro com o nome provisório de SANTO ANTÓNIO, onde foi alterado, definitivamente para o de PÁDUA.

ALGER – ex OLDAMBT – Longo curso – 1930 – 48m/431tb – Vieira & Labrincha, Lda., Lisboa.


O navio-motor ALGER no rio Douro, acostado à prancha da CRCB, Massarelos, descarregando bacalhau importado da Terra Nova, finais da década de 40 /(c) foto de F. Cabral/.


Em plena guerra de 1939/45, navegava o ALGER no Mediterrâneo, em rota de Itália para Lisboa, prestes a alcançar o estreito de Gibraltar, quando foi mandado parar e abordado por uma corveta da “Royal Navy” em serviço de patrulha ao estreito, tendo subido a bordo um jovem oficial e as respectivas praças a fim de passar a inspecção e verificar os manifestos de carga.
Tudo isso teria passado despercebido, se o referido oficial de Sua Majestade, que falava o português fluente, não tivesse dado de caras com um tripulante do ALGER morador na freguesia da Foz do Douro, cidade do Porto, onde aquele oficial, que fora para a Grã-Bretanha lutar pela sua pátria, vivera desde a sua infância com os seus progenitores, membros da colónia Britânica da cidade do Porto e que continuaram a residir por muitos anos naquela cidade. Após a equipa de abordagem ter cumprido a sua missão não abandonou o ALGER, sem que antes os seus elementos provassem um “Porto” e aquele oficial pedisse ao seu conterrâneo para dar notícias dele aos seus pais.
Este episódio foi relatado pelo interveniente Português de seu nome Joaquim Barbosa mais identificado por “Quim Carminda”, familiar do autor do blogue, que mais tarde foi guindasteiro nos portos do Douro e Leixões (A.P.D.L.), o qual chegado à Foz do Douro foi levar novas daquele oficial de marinha, aos seus pais.
O “ALGER”, um navio do tipo holandês “schuyter”, foi construído em 1930 nos estaleiros Holandeses J. Smit & Zonen, Foxhol, com o nome de OLDAMBT para o armador NV. Motorvrachtvaart (Onnes), Groningen, tendo mais tarde sido adquirido pelo armador Vieira & Labrincha, Lda., Lisboa, que o colocou no tráfego costeiro nacional com viagens esporádicas à Terra Nova, Brasil, Mediterrâneo e Marrocos. Em 1951 passou para Vieira & Silveira, Lda, Lisboa. Na década de 80 encostava no Talaminho, Amora, onde parece ter sido desmantelado para sucata.
No final da década de 40 encontrava-se o ALGER em viagem da Terra Nova para o Porto, com um carregamento de bacalhau seco destinado à Comissão Reguladora do Comércio de Bacalhau, quando ficou à deriva em pleno Atlântico, devido a uma avaria na máquina. Em seu auxílio largou da baía de Cascais, a toda velocidade, o vapor de pilotos da barra do Tejo COMANDANTE PEDRO RODRIGUES, que o rebocou até junto da barra do Douro, onde o ALGER a demandou conduzido por um rebocador local até acostar à prancha daquela comissão, no lugar do Bicalho.
Em 29.06.1968 o ALGER, quando em viagem do Porto para Alhandra com um carregamento de cerca 500 toneladas de carvão em pó, encalhou devido ao denso nevoeiro nas rochas denominadas de Papôa, a trinta metros da praia, junto a Peniche. Apesar da situação critica em que se encontrava foi safo no dia seguinte, tendo rumado a Lisboa rebocado pelo salvadego Português PRAIA DA ADRAGA, que acorrera em seu auxílio.
A 18.09.1969 o ALGER, quando se preparava para demandar o rio Coina, foi colidir com um pilar da ponte do ramal de caminho de ferro de Cacilhas, que ligava o Lavradio ao Seixal, ficando a ponte bastante danificada e o ramal inactivo por bastante tempo. As lanchas ANDORINHA e NOVA TINTA auxiliavam a manobra daquele navio costeiro, que sofreu avarias ligeiras.


NOTAS SOLTAS CURIOSAS
Com o afundamento do PÁDUA, felizmente fechara-se a trágica lista dos atentados aos navios de nacionalidade neutral Portuguesa, perpetrados por forças militares beligerantes no período da guerra de 1939/45, com a perda de 11 unidades mercantes ou de pesca, que bastante falta fizeram ao país e sobretudo de preciosas vidas de muitos dos seus tripulantes, que nada tinham a ver com as lutas entre os beligerantes.
Segundo consta, nos finais da 2ª guerra mundial, haviam dois vapores da pesca do arrasto, que foram adaptados a vapores de carga e que passaram a realizar o tráfego entre Portugal e a costa atlântica de França, transportando mercadoria para as forças do “Eixo”, situação normal, dado que Portugal era um país neutro e como tal ninguém o poderia impedir de realizar operações comerciais com qualquer país, fosse beligerante ou não, ainda que houvessem algumas condicionantes.
Simplesmente acontecia, que essas unidades eram o ALVAIÁZERE e o TRANSPORTADOR, os quais realizavam essa rota demasiado junto à costa, perigando a sua navegação e sujeitos a encalharem. Tudo isso para evitar serem atacados e afundados pelas forças “Aliadas” e na verdade conseguiram-no, visto terem sobrevivido à guerra.
ALVAIÁZERE – ex BOA ESPERANÇA 2º – Cabotagem internacional – 38m/257tb – Mário Silva., Lda., Leixões.
TRANSPORTADOR – ex TREVO SEGUNDO, ex BALBINA PRIMEIRO – Cabotagem internacional – 37m/257tb – A Transportadora, Lda., Lisboa.
Aqueles dois vapores foram construídos por J. Duthie Torry Shipbuilding Co., Aberdeen, respectivamente em 1907 e 1899 e tudo leva crer que após o conflito foram desmantelados.
Constava também, que um certo dia, um vapor de nacionalidade Inglesa, saído de um comboio, que passara ao largo da costa, o qual mostrando o galhardete “G” na adriça da ponte de comando, pedindo prático, se acercava da entrada do porto de Leixões e quando a lancha de pilotar realizava a manobra de abordagem, a fim do respectivo piloto subir a bordo, começou a escutar-se o ruído de um avião a aproximar-se.
Já com o piloto da barra na ponte de comando, pedindo ao capitão “more steam" na máquina, a fim do vapor ganhar mais velocidade para fugir ao ataque, evitando-se assim vir a ser atingido, e sabe-se lá o que mais, e substituída a bandeira da letra “G” pela “H”, assinalando piloto da barra embarcado, a bandeira nacional de Portugal içada no mastro de vante, artilheiros nos seus postos de combate, prontos a ripostar à aeronave da “Luftwaffe”, que sobrevoava e picava, ameaçadoramente sobre o vapor, contudo, possivelmente por ter visto a bandeira “H” e a Portuguesa arvoradas, desistiu dos seus intentos e abandonou a área, retomando a rota do seu patrulhamento à procura de outras vitimas ou mesmo acabar por ser abatido por algum artilheiro certeiro.

(A CONTINUAR)

domingo, 21 de dezembro de 2008

UMA OBRA LITERÁRIA QUE SE RECOMENDA



AUTOR
OSCAR FANGUEIRO

EDITOR
ACADEMIA DE DANÇAS E CANTARES DO NORTE DE PORTUGAL
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FOZ DO DOURO
4150-000 PORTO
Fax 226172375

À VENDA EM ESTABELECIMENTOS DE LIVRARIA, PAPELARIA E TABACARIA DA FOZ DO DOURO E NEVOGILDE

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