sábado, 29 de novembro de 2008

« NAVIOS DE PAVILHÃO PORTUGUÊS ATACADOS OU AFUNDADOS POR UNIDADES NAVAIS OU AÉREAS BELIGERANTES EM CONSEQUÊNCIA DO CONFLITO MUNDIAL DE 1939/1945 » (2)


SERPA PINTO –
ex Jugoslavo PRINCESA OLGA, ex Inglês EBRO – paquete de longo curso – 1914 – 143m/8.480tb – Companhia Colonial de Navegação, Lisboa.

O SERPA PINTO fundeado no Funchal durante a guerra de 1939/45, possivelmente na sua primeira escala àquele porto insular /(c) foto de autor desconhecido/.

Em 1940 havia em Lisboa imensos refugiados de guerra, sobretudo Judeus, que se encontravam em trânsito para os E.U.A. e como tal o SERPA PINTO, assim como outras unidades mercantes nacionais entraram nesse tráfego, utilizando os portos de Filadélfia e Baltimore. Além das viagens aos E.U.A., também realizou, ainda durante os anos de guerra, viagens ao Brasil e a África.
Naquela época a maior parte dos passageiros eram Judeus fugidos dos países do “Eixo” e o paquete de imediato se tornou bem conhecido, quer das forças “Nazis”, quer dos “Aliados”. Vários episódios graves provam o que se dizia. Em 1941, quando navegava em pleno Atlântico o paquete foi interceptado pela “Royal Navy”, que obrigou o navio a seguir para as Bermudas, onde lhe foi passada uma busca durante três dias. Os Ingleses suspeitavam, que o paquete transportasse passageiros de nacionalidade Alemã.
A 26.05.1944, pela meia-noite, apesar de totalmente iluminado, mostrando a sua sinalização convencional de navio mercante neutral, quando em viagem de Lisboa e Ponta Delgada para os E.U.A., o SERPA PINTO foi mandado parar pelo submarino Alemão U-541, a 600 milhas a leste das Bermudas. Além de 157 tripulantes, iam a bordo 228 passageiros e destes fazia parte um grande número de Judeus refugiados de guerra. Por ordem do seu comandante, Kapitanleutnant Kurt Petersen, foi arriada uma embarcação, que conduziu para bordo do submarino o imediato e o segundo piloto do SERPA PINTO, levando os documentos do navio. O imediato ficou retido como refém, enquanto um oficial alemão e marinheiros armados de metralhadoras deslocaram-se a bordo do paquete para passarem uma busca. O oficial alemão informou o comandante Português que procurava um cidadão Britânico, natural do Canadá, que foi levado ao submarino, após ter sido localizado no seu camarote. O imediato regressou a bordo com a notícia de que o SERPA PINTO seria torpedeado dentro de 20 minutos, por esse motivo o paquete foi abandonado, permanecendo os passageiros e tripulantes nos barcos salva-vidas ao sabor das ondas. O tempo passou e, cinco horas mais tarde o comandante do SERPA PINTO foi levado à presença do seu homólogo Alemão, tendo este informado, que aguardava de Berlim, a confirmação da ordem de afundamento do navio. Pelas 08h00, finalmente chegou a ordem de não afundar o paquete, regressando a bordo os passageiros, tripulantes e ainda o cidadão Britânico, no entanto dois Americanos de origem lusa ficaram detidos a bordo do submarino, o qual permaneceu próximo do paquete até ao meio-dia, tendo por fim submergido e o SERPA PINTO prosseguiu viagem para Filadélfia às 17h00. Os dois Americanos feitos prisioneiros foram levados para a base de Lorient, onde o U-541 chegou a 22.06.1944, ignorando-se as razões da sua detenção.
O incidente forçara o paquete a uma paralisação de cerca de 17 horas, uma grande parte de noite, assustara e incomodara os passageiros e tripulantes. Com a confusão que se gerou, o médico de bordo, um cozinheiro e uma criança de 16 meses perderam a vida, devido terem caído ao mar. Em Dezembro de 1942 atracava ao porto de Lisboa, trazendo a bordo 40 crianças de nacionalidade Britânica, que haviam sido evacuadas para os E.U.A. e agora, voluntariamente regressavam à Europa.
O U-541 sob o comando do Kapitanleutnant Kurt Petersen, após terminada a guerra, rumou a Gibraltar por ordem do almirantado Alemão, onde se rendeu às autoridades navais Britânicas a 14.05.1945. Mais tarde foi levado para Lisahally, Irlanda do Norte onde se juntou a uma enorme alcateia de outros submarinos Alemães, que também se tinham rendido aos “Aliados”. Em 05.01.1946 aquele submarino foi afundado, na denominada operação Deadlight, alvejado pelos contratorpedeiros HMS ONSLAUGHT e HMS ZEALOUS ao largo da costa, posição 55.38N e 07.35W. O seu comandante ficou detido, permanecendo num campo de prisioneiros de guerra na Grã-Bretanha até Janeiro de 1948.
A Royal Mail Steam Packet Co.
(Mala Real Inglesa) encomendou em 1913 dois paquetes aos estaleiros Workman Clark & Co., Belfast, que viriam a ser denominados EBRO e ESSEQUIBO. O primeiro foi lançado à água em 18.11.1914, realizando pouco tempo depois a sua viagem inaugural às Caraíbas e logo que regressou a Inglaterra, devido ao conflito mundial 1914/18, foi requisitado pelo almirantado e transformado em cruzador auxiliar, passando a fazer parte do 10º esquadrão de cruzadores no patrulhamento do mar do Norte e Atlântico até final da guerra. Tendo sido desarmado em 1919, passou a servir a Pacific Steam Navigation Co. (Mala Real do Pacifico) a partir de 1920 no seu serviço de Nova Iorque e Chile via canal do Panamá e em Agosto de 1929 o EBRO sofreu transformações na máquina, passando a queimar óleo em vez de carvão.
Em 1935 foi comprado pela companhia Jugoslava Jugoslovenska Lloyd, Dubrovnik, que o registou com o nome de PRINCESA OLGA, passando a realizar o seerviço do Mediterrâneo Oriental. Em 08.05.1940 hasteou pela primeira vez as cores de Portugal por ter sido comprado pela Companhia Colonial de Navegação. Lisboa. No período da guerra de 1939/45, realizou viagens aos E.U.A., Brasil e Africa Portuguesa. Terminado o conflito foi transferido para a linha do Brasil, onde foi muito bem sucedido e em 1952 com a entrada do VERA CRUZ foi transferido para nova carreira das Caraíbas. Realizou algumas viagens turísticas de fim de ano ao Funchal e uma muito especial a Helsínquia, aquando dos jogos olímpicos de 1952. A 06.09.1955, a reboque deixava o estuário do Tejo a caminho de Antuérpia, arvorando a bandeira nacional Belga, onde foi desmantelado para sucata.

O SERPA PINTO passando sob a ponte Levensau, Canal de Kiel, de rumo a Lisboa, transportando os elementos da delegação Portuguesa, que participara nos Jogos Olímpicos de Helsinquia 1952 / (c) foto de autor desconhecido /.

http://lmcshipsandthesea.blogspot.com/2007/04/serpa-pinto-nos-eua.html

http://www.uboat.net/types/ixc40.htm

http://resources.ushmm.org/film/display/main.php?search=simple&dquery=keyword(CHILDREN+(JEWISH))&cache_file=uia_nNIFXq&total_recs=173&page_len=25&page=1&rec=20&file_num=1104


EXPORTADOR PRIMEIRO –
ex LIBERAL TERCEIRO, ex OCEANO, ex Alemão PRINZ LEOPOLD – vapor de pesca do arrasto – 1917 – 41m/318tb – Soc. de Pesca a Vapor Exportador Lda., Lisboa.
A 01.06.1941, pelas 14h52, o EXPORTADOR PRIMEIRO, quando navegava dos pesqueiros do Cabo Branco de rumo a Lisboa, com cerca de 300 toneladas de peixe, foi surpreendido e atacado a tiro de canhão por um submarino desconhecido que, sem aviso de espécie alguma, disparou contra aquele vapor de pesca, cerca de 50 tiros, até o afundar. O primeiro maquinista Reinaldo Ramos, casado, 49 anos e o mestre de redes António Chiquito, casado, 32 anos, foram vítimas mortais. Os tripulantes José Justino, João Severiano e Manuel Pedro sofreram ferimentos graves, devido aos estilhaços.
O capitão, José dos Santos Bodas, após abandonar o navio, ainda tentou provar ao comandante do submarino, que o navio era Português e, como tal, neutro, porém os atacantes, cobardemente, não o atenderam. Os sobreviventes andaram à deriva até alcançarem a costa do Algarve, mais precisamente Olhão, em 03.06.1941, de onde viajaram para Lisboa.
Esse submarino, que não se identificara, era o Italiano R.SMG GUGLIELMO MARCONI do comando do Capitano di corvetta Mario Paolo Pollina, que atacou o EXPORTADOR PRIMEIRO nas coordenadas 35.31 N e 11.30W ou seja a sul do Cabo de S.Vicente, acabando por o afundar.
Não se compreende a razão, que levou aquele comandante a atacar e afundar um indefeso vapor de pesca, que arvorava e exibia as cores de Portugal, país neutro. Poderia ter sido por lapso ou por supor, que aquela embarcação estivesse a colaborar com os “Aliados”.
O GUGLIELMO MARCONI, nas noites de 27 e 28.10.1941 comunicava, que se encontrava na posição 42.15N e 21.55W, juntamente com outros submarinos Italianos e Alemães em acção de ataque a um comboio marítimo Aliado. Essa foi a sua última comunicação, pois jamais regressou à base “Betasom”, Comando Superior da Força Submarina Italiana do Atlântico, Bordéus, tendo sido considerado perdido com toda a sua equipagem, incluindo o seu novo comandante, il Capitano di corvetta Lívio Piomarta.
O EXPORTADOR PRIMEIRO foi construído na Alemanha em 1917, pelo estaleiro Reiherstieg Schiffswerft & Maschinenfabriek, Hamburgo, com o nome de PRINZ LEOPOLD. Em 1922 foi trazido para Portugal pela Empreza de Pesca a Vapor Oceano, Lisboa, que o baptizou de OCEANO e em 1929 foi adquirido por Manuel de Jesus, Lisboa, alterando nome para LIBERAL TERCEIRO, tendo sido vendido em 1936 à Sociedade de Pesca a Vapor O Exportador, Lda., Lisboa, que lhe deu o nome, que possuía à data do seu afundamento. Atingia a velocidade de 9 milhas e fainava nos ricos bancos de pesca do cabo Branco e cabo Juby.

http://www.regiamarina.net/subs/submarines/marconi/marconi_us.htm


GANDA – ex Inglês CITY OF MILAN, ex Alemão PLAUEN – longo curso – 1907 – 122m/4.333tb – Companhia Colonial de Navegação, Lisboa.


O vapor GANDA no estuário do Tejo, já por alturas da guerra de 1939/45 / (c) foto de autor desconhecido/.


A 20.06.1941 navegava o vapor GANDA, na posição 34.10N e 11.40W, procedente de Lisboa, rumando a Luanda e vários portos de Moçambique transportando 3.500 toneladas de carga geral e vinhos, além de 50 tripulantes e 22 passageiros. O seu capitão era o Comandante Manuel da Silva Paião.
Entretanto o submarino alemão U-123, após ter cruzado o estreito de Gibraltar e já ao largo da costa de Marrocos, avistou um vapor mercante que navegava isolado, sendo identificado como um legítimo alvo Britânico. Ao alvor um ataque em imersão começou a ser preparado contra o ignorado vapor neutro GANDA.
Na tarde de 20, pelas 17h00, posição 34.10N e 11.40W, à distância de 600 metros foi lançado um torpedo, que falhou o alvo, aparentemente passou pela ré daquele vapor. Um outro torpedo foi lançado às 18h30 e acertou no alvo com sucesso. O GANDA foi atingido a meia-nau, na casa da máquina e com a entrada de água começou a adornar a bombordo, pelo que a sua tripulação e passageiros apressaram-se a abandonar o navio. No entanto este, embora adornado, continuava a flutuar, pelo que alguns tripulantes voltaram a bordo para arriar a baleeira a motor, o que conseguiram e distribuíram-se, convenientemente tripulantes e passageiros, pelas diversas embarcações. Em face da situação seguiu um terceiro torpedo, que apesar do seu impacto no costado do desventurado vapor, este continuava sem submergir, contudo notava-se um enorme rombo a estibordo, por alturas do porão numero três. Bem visíveis, tremulava a bandeira Portuguesa à popa, erguia-se bem alta a bandeira fixa por cima da ponte e exibiam-se as do costado, bem destacadas contra o negro da pintura do casco.
O comandante do submarino, Kapitanleutnant Reinhard Hardegen, então decidiu emergir e dar o golpe de misericórdia a tiro de canhão. Depois de mais de meia centena de tiros de granadas, o GANDA acabou por ir a pique. Ao aproximar-se das baleeiras salva-vidas, o comandante do submarino só então reparou no erro, ficando, verdadeiramente estupefacto ao descobrir, que o navio não era de nacionalidade britânica mas sim de nacionalidade neutral Portuguesa. Da lotação de 72 elementos a bordo, cinco foram para o fundo do mar com o GANDA. Esses infelizes foram o imediato, 3º maquinista, um fogueiro e 2 passageiros.
Após a patrulha o comandante-em-chefe da arma submarina da “Kriegsmarine”, VizeAdmiral Karl Doenitz, ordenou ao comandante do submarino U-123 para alterar o diário de bordo de maneira a mostrar, que nenhuma acção de qualquer espécie foi realizada naquele dia 20 de Junho, a fim de evitar complicações diplomáticas com o governo de Portugal.
Os sobreviventes foram recolhidos por dois vapores da pesca do arrasto: o Português FAFE da praça do Porto, salvou 26 e o Espanhol VENTURA GONZALEZ resgatou 41, que foram conduzidos a Huelva.
O submarino U-123 foi desactivado na base naval de submarinos Alemães de Lorient, França, em 17.06.1944 e passou a ser utilizado como navio gerador, até ser capturado pelas “forças militares dos E.U.A”. quando da tomada da cidade. Depois da guerra passou a servir a Marinha de Guerra de França com o nome de BLAISON (S-611) e em 10.09.1959, como navio-alvo, foi afundado em exercícios de tiro.
O Kapitanleutnant Reinhard Hardegen, após a rendição da “Alemanha Nazi”, passou pouco mais de um ano detido pelas “Aliados”, antes de regressar a sua casa em Novembro de 1946. Nessa altura estabeleceu-se no negócio de óleos com uma empresa de sucesso e mais tarde foi membro do Parlamento da cidade de Bremen, sua cidade natal.
O GANDA, 122m/4,333tb, foi construído em 1907 pelos estaleiros Flensburger Schiffswerk Ges., Flensburg, sob encomenda da Deutsche Australische Dampfs. Ges. No final da guerra de 1914/18 foi entregue aos Ingleses como reparação de guerra, passando a pertencer à Ellerman’s City Line., Ltd., Londres, com o nome de CITY OF MILAN. Comprado pela Companhia Colonial de Navegação, Lisboa, em 1931 passou a ser denominado de GANDA, segundo desde a fundação da companhia, tendo sido registado em Luanda a 31.03.1931. Atingia a velocidade de 10,5 nós.

http://www.uboat.net/men/hardegen.htm


CORTE REAL – ex Holandês PEURSUM – longo curso - 1922 – 90m/2.044tb – Carregadores Açoreanos, Ponta Delgada.


O vapor CORTE REAL /(c) foto de autor desconhecido /.


Na noite de 07.10.1941, pelas 21h00, em plena guerra mundial, largava de Lisboa com destino a Nova Iorque com escala por Leixões, Funchal e Ponta Delgada, o vapor CORTE REAL capitaneado pelo Comandante José Narciso Marques Júnior, levando a bordo 710 toneladas de carga diversa para Nova Iorque e quatro passageiros de nacionalidade Portuguesa para Ponta Delgada.
A 8 chegava a Leixões, onde carregou mais 520 toneladas de carga e recebia mais dois passageiros, um Americano e um Francês, ambos com destino aos E.U.A. e três dias mais tarde, pelas 18h00 do dia 11, o CORTE REAL deixava Leixões de rumo ao Funchal. A 12, pelas 08h30, foi sobrevoado por uma avião da “Luftwaffe”, que pouco depois desaparecia entre as nuvens.
Levava bem visíveis as bandeiras e os sinais regulamentares, conforme acordo estabelecido entre neutros e beligerantes e a manhã era de boa visibilidade, porém às 11h45 do dia 12, posição 38.36N e 11,00W, era avistado pela alheta de bombordo um submarino Alemão, que disparou um tiro de canhão por cima do CORTE REAL, intimando-o dessa forma a parar. Apesar de parado, foi disparado um segundo tiro sobre o vapor e com o submarino a cerca de 200 metros, foi transmitida uma mensagem por bandeiras, para que fosse enviada uma embarcação com todos os documentos do CORTE REAL, incluindo o seu manifesto de carga, ordem cumprida sem qualquer demora, seguindo o imediato Jorge Soares de Andrade numa baleeira salva-vidas e apresentando de seguida toda a documentação ao comandante Alemão, Kapitanleutnant Hans Werner Kraus. Examinados os documentos no convés do submarino, o que levou cerca de uma hora, o imediato foi informado de que deveria regressar a bordo e comunicar ao seu comandante, que todos os elementos a bordo teriam de abandonar o navio, pois este iria ser afundado.
O comandante alemão havia encontrado no manifesto de carga, mercadoria com destino a um país inimigo da Alemanha, neste caso o Canadá, embora a mercadoria viesse a ser baldeada em Nova Iorque. Contudo, ao receber a ordem, o imediato sugeriu ao comandante alemão a possibilidade da vinda do seu comandante a bordo do submarino, pois ele falava um pouco alemão e poderia, então, esclarecer melhor quaisquer dúvidas, que porventura pudessem existir. A sua sugestão foi aceite. Ao chegar a bordo do U-83, foi no entanto reiterada ao capitão do CORTE REAL a mesma ordem e apresentadas as mesmas razões pelas quais o seu vapor iria ser afundado. Em contrapartida o comandante português sugeriu que fosse permitido o seu regresso a Lisboa, a fim de descarregar a pouca mercadoria em disputa ou mesmo alijá-la ali ou num porto, que o comandante Hans Werner Kraus indicasse, onde pudesse proceder à sua descarga. Sugestão essa, que foi categoricamente rejeitada.
Em face dessa recusa terminante, o Comandante José Narciso Marques Júnior regressou a bordo do seu vapor acompanhado do imediato do U-83 e duas praças, dando de seguida a ordem de abandono do navio, acção que tinha de ser concluída dentro de 30 minutos, tempo máximo concedido pelo comandante do submarino.
O trabalho de salvamento dos passageiros e tripulação foi feito com ordem, excepto o contratempo com a avaria no aparelho de uma das duas baleeiras, o que originou a sua perda e dos seus haveres. Dispondo-se apenas de uma baleeira salva-vidas e de um bote de serviço para salvamento de todas as vidas. Arriadas as duas embarcações, os náufragos dirigiram-se ao submarino, a fim de levarem para bordo o seu imediato e as duas praças.
No dia 12, pelas 16h20, cometia-se mais um atentado à marinha mercante Portuguesa, pois o U-83 disparava contra o CORTE REAL nove granadas incendiárias, e finalmente às 16h45 lançava um torpedo, que o afundava em poucos minutos e de seguida, o submarino Alemão rebocou as duas embarcações em direcção à costa portuguesa durante 20 milhas, mantendo a bordo nesse percurso duas senhoras e duas crianças, a quem dispensaram os maiores cuidados e a quem, ao desembarcarem do U-83 pelas 17h30, eram oferecidas duas mantas, algum leite, pão e água, embora o salva-vidas estivesse bem fornecido.
Os 36 náufragos do CORTE REAL encontravam-se agora à sua sorte, pois a costa de Cascais ainda estava muito distante, a cerca de 60 milhas náuticas, felizmente com bom tempo, sem vento e com mar calmo e com a promessa do capitão do submarino de que o governo de Berlim entraria em contacto com as autoridades de Lisboa, a quem seriam dadas as necessárias explicações e a posição dos náufragos.
No dia seguinte, pelas 07h45, os náufragos foram encontrados pelo caíque de pesca português ADEUS da Fuzeta, que os rebocou para Lisboa, já com o farol do Cabo Raso à vista, após 33 milhas a remos, tendo aquelas embarcações sido avistadas por um hidroavião Português da base do Bom Sucesso, que as sobrevoou várias vezes em missão de busca e salvamento. Às 16h30 do dia 13, quando estavam ao largo de Cascais veio ao encontro dos náufragos a lancha dos pilotos da barra FEITORIA, que levou a reboque o caíque e as duas embarcações com os náufragos. Alcançado a área do porto de Lisboa, foram todos desembarcados a salvo no cais da Caldeirinha, do antigo Arsenal de Marinha, onde foram recebidos pelas autoridades competentes.
A mercadoria, que originou a ordem de afundamento do CORTE REAL, poderia ter sido máquinas de relojoaria, contrabando de guerra, exportadas pela Suiça, país neutro, via Portugal, também neutro, para os E.U.A., à data ainda neutro mas que na realidade se destinavam ao Canadá, país beligerante. As informações eram colhidas em Portugal, onde abundavam espiões dos países em conflito.
A 18 de Dezembro, durante a sua terceira patrulha com o U-83 o Kapitanleutnant Hans Werner Kraus cruzou o estreito de Gibraltar e após seis patrulhas no Mediterrâneo deixou o comando daquele submarino, que a 04.03.1943 foi para o fundo com toda a sua tripulação a sudoeste de Cartagena, Mediterrâneo, após ter sido atacado por um avião com bombas submarinas.
A 28.11.1942 aquele oficial da “Kriegsmarine” tomou o comando do submarino “U-199”, o qual foi afundado, através de cargas de profundidade lançadas por um avião Americano e dois Brasileiros a 31.07.1943 no Atlântico Sul, a Leste do Rio de Janeiro. O avião Americano explodiu, apesar de não ter sido atingido e despenhou-se no mar. 49 tripulantes foram para o fundo com o seu submarino, salvando-se apenas 12, que foram recolhidos pelo navio de apoio a hidroaviões Americano USS BARNEGAT , entre os quais se encontrava o Kapitanleutnant Hans Werner Kraus, que foi detido e passou três anos em vários campos de prisioneiros sedeados nos E.U.A. Aquele comandante foi protagonista, juntamente com outros oficiais da “Kriegsmarine” numa famosa fuga do campo Papago Park, Arizona, durante a noite de 23 para 24 de Dezembro de 1944. Esse episódio deu origem à obra literária publicada em 1978 “The Faustball Tunnel” de John Hammond Moore, German POWs in América and their great escape. Uma semana mais tarde, ele e um outro companheiro de fuga, acabaram por se entregar, devido a ferimentos graves sofridos durante a fuga. Em Fevereiro de 1946 foi enviado para o campo Shanks e mais tarde para a zona Britânica da Alemanha, perto de Munster, pouco antes de ser libertado, tendo falecido em 1990.
O CORTE REAL, que veio tomar o lugar do vapor ANGRA naufragado no lugar de Lavadores, a sul do cabedelo da barra do Douro em 27.12.1933, foi construído e completado em Junho de 1922 pelos estaleiros holandeses A. Vuijk & Zonen, Capelle a/d Ysel, tomando o nome de PEURSUM, para o armador holandês Stoomvaart Mij. Oostzee (Vinke & Co), Amesterdão, tendo sido registado a 03.04.1934 na capitania do porto de Ponta Delgada.
Rui Amaro

http://www.tarrif.net/cgi/production/all_subs_adv.php?op=getuboats&uboatsX=11

http://news.webshots.com/photo/1025980220033241453uaOstbuCGk

http://www.uboat.net/men/kraus.htm

http://www.sportesport.it/wrecksSP023.htm

( A CONTINUAR )