sábado, 6 de setembro de 2008

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TRABALHADORES RESGATADOS DO MOLHE NORTE DA NOVA BARRA DO DOURO

18/08/2008, Segunda-feira, dezoito trabalhadores foram resgatados do molhe Norte da nova barra do rio Douro, por dois helicópteros, após terem sido surpreendidos, cerca das 16h00, por enormes voltas de mar que cruzavam o quebra-mar de lés a lés. O 19º trabalhador aventurou-se e conseguiu por sua conta e risco, correr ao longo do paredão, enfrentando a maresia em fúria e saindo da zona de risco.
O alerta para a autoridade marítima foi dado cerca das 19h00, ao anoitecer, provavelmente devido aos responsáveis da segurança da obra, estarem convencidos que com o aproximar da vazante, fosse possível a travessia do paredão sem percalços. Os 18 trabalhadores da Somague, experimentada empresa a nível internacional de obras portuárias e responsável pela construção da nova barra, os quais não corriam risco, ficaram retidos e abrigados no miradouro do novo farolim, onde se ocupavam dos trabalhos finais, devido à forte ondulação que lhes cortou a passagem de cerca de 300 metros para o estaleiro da obra. Para agravar a situação, naquele dia verificava-se uma das maiores marés do ano.
Dado o alarme, meios da estação de socorros a náufragos da Foz do Douro e da Policia Marítima tentaram fazer o resgate com embarcações semi-rigidas, mas o estado do mar tornava a operação demasiado perigosa, pelo que foram então activados meios aéreos. Cerca das 20h30, dois helicópteros: um da Protecção Civil, vindo de Santa Comba Dão e o outro da Força Aérea, proveniente do Montijo. O primeiro conseguiu retirar quatro trabalhadores. A seguir entrou em cena o helicóptero militar “Merlin” que resgatou os restantes 14.
A operação, que foi muito facilitada por ter sido realizada numa plataforma estável, foi um sucesso e foi dada por terminada pelas 23h00. Todos os resgatados foram transportados para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, onde tinha sido montado um dispositivo de assistência médica do INEM, com uma viatura médica e duas ambulâncias. Nenhum dos trabalhadores apresentava ferimentos de maior, pelo que a assistência se concentrou em eliminar os efeitos de algumas horas passadas ao frio e de sinais de pânico. Apenas um dos trabalhadores foi receber assistência no Hospital Geral de Santo António, no Porto, por se ter depositado uma limalha num dos olhos.
Em declarações ao Jornal
de Noticias, o Cte. Martins dos Santos, capitão do porto do Douro, frisou: “São imponderáveis que acontecem. Foi uma situação sem grande risco, apesar do aparato provocado pelos helicópteros. A ansiedade de quem está à espera dos meios de salvamento é natural. A primeira opção foi tentar a recolha através de meios náuticos, porém não foi possível lá chegar com as embarcações semi-rigidas ao dispor da Capitania e do Instituto de Socorros a Náufragos.
Depois avaliou-se a possibilidade de se fazer um compasso de espera, para tentar uma abordagem com as embarcações. Com o aproximar da noite, e uma vez que as condições de mar se mantinham instáveis, optámos por usar os helicópteros”.
Também, a 17/08/2008, entre a Costa Nova e a Vagueira, um golpe de mar fez virar a pequena lancha PESCA, que transportava dez trabalhadores da Somague, que se dirigiam para uma obra adjudicada àquele empreiteiro, na praia de Mira. Todos os dez elementos alcançaram terra a nado e a embarcação foi resgatada.
Fonte e imagem: Jornal de Noticias - LC


EU ASSISTI!

Cerca das 16h00 de 18/08/2008 verificou-se um súbito agravamento do estado do mar na costa Norte, aliado à “maré grande”, designadamente à entrada da barra do rio Douro. De acordo com as previsões de estado do mar elaboradas e disponibilizadas diariamente e particularmente pelo Instituto Hidrográfico, era expectável um agravamento da agitação marítima na noite e madrugada de Segunda para Terça-feira, só que surgiu mais cedo do que o esperado, a modos de maremoto.
Maremoto, que não é novidade para a Foz do Douro, pois em 1946, presenciei um, que embora não fosse de grandes proporções, ainda fez bastantes prejuízos materiais e humanos, e só não foram mais elevados, porque o movimento de veículos e populares era muito diminuto. Quatro jovens estudantes do Colégio Brotero, quando se encontravam no molhe de Felgueiras, foram levados pelas águas, terra dentro, a uma distância de cerca 500 metros, tendo ficado bastante maltratados, pelo que foram hospitalizados. Populares que estavam em terrenos, junto da barra, mais elevados, permaneceram, por bastante tempo, cercados pelas águas, que alagaram as artérias envolventes ao castelo de S. João da Foz, à escola primária nº 85 e à estação de Socorros a Náufragos. As primitivas instalações do Lawn Ténis Club da Foz desapareceram literalmente. Grandes quantidades de areia e enormes pedregulhos do enrocamento do molhe de Felgueiras foram arremessados praia acima e colocados pelas águas no jardim do Passeio Alegre, a cerca de 600 metros de distancia, local onde o mar jamais havia chegado.
Eu, que todos os dias olho a barra, que desde criança sempre tenho assistido a grandes maresias e muitas delas da envergadura da que deu origem ao incidente, se bem que nestes últimos anos não tenham sido usuais. Aqui na Foz do Douro, apelidamo-las de “Maresias de Agosto ou do S. Bartolomeu”. É, que a meados desse mês, por alturas da romaria local em honra daquele santo, o mar começa a mexer mais, e sem se prever, a ondulação forma-se ao largo, nas lajes das Longas, a cerca de 700 metros ao Noroeste do Pedra do Gilreu e num ápice está a cair, perigosamente sobre a costa e a barra e o próprio sargaço desprendendo-se começa a dar à praia. Aqui, junto do estaleiro das obras da barra, é costume ouvir-se dos cidadãos locais, o seguinte comentário, “se o empreiteiro não aproveita o tempo de mar chão, chegando a meados de Agosto ou ao dia de S. Bartolomeu, começa o mar a crescer e vindo o Inverno, a obra nunca mais ficará completa”.
Recordo-me dos banheiros, num corrupio a mandar os banhistas retirarem-se das praias e as barracas, toldos e as palamentas a serem levadas pelos enormes vagalhões, causando prejuízos sem conta. Ainda na tarde do incidente, alguns banhistas permanecendo, por desconhecimento ou por incúria, junto da restinga, apesar dos avisos dos nadadores-salvadores e de populares, foram surpreendidos pela ondulação que se estendeu areal acima, ficando com os seus haveres molhados e eles próprios sujeitos a serem levados pelas águas.
Não é que a intensidade de mar, nessa tarde, perigasse a passagem de embarcações na barra, só que a vaga, normalmente vem de Noroeste, mesmo com ventos de outros quadrantes, conquanto antes da construção do molhe Norte, como não encontrasse essa barreira, prosseguia barra dentro, mesmo passando por cima do velho cais do Touro, rumava a Sueste e corria ao longo da Restinga e do Cabedelo, que se encontrava já muito a Leste, dentro do estuário, fora do seu berço natural, ou seja diante da Meia Laranja e da pedra do Touro e virando a Nordeste ia fazer elevados estragos na margem Norte, nomeadamente nos martirizados lugares da Cantareira e de Sobreiras. Agora com os dois molhes, o do Norte e o do Sul, mesmo em dias de mar tempestuoso, as águas no estuário conservam-se, praticamente calmas, mas os pescadores de cana, sempre afoitos e descuidados, podem vir a sofrer percalços, se não se precaveram quando forem pescar para os dois molhes. Hoje, 05/09/2008, apesar do mau tempo, a ondulação está fraca, mesmo assim faz um efeito belo dantesco, ao embater no molhe Norte.

Na minha actividade profissional, na assistência a navios surtos no rio Douro, muitas vezes, em finais do mês de Agosto, mar relativamente calmo, seguindo eu, aqui da Foz do Douro, onde sempre residi, perto da barra, e cerca de uma hora depois, estando com o navio desembaraçado, já a manobrar de saída para a barra, recebia um telefonema da Corporação de Pilotos, pedindo para avisar o piloto para não largar, porque a agitação marítima na barra, imprevisivelmente tinha crescido e cerrava a barra de lés a lés. Outros já vinham rio abaixo, não havendo tempo para contactar o piloto, e quando chegavam entre bóias da Cantareira, vislumbrando o galhardete da letra N (CIS) içado no mastro do cais do Marégrafo, sinal de barra encerrada, tinham que largar o ferro de bombordo e com a ajuda deste e de marcha avante e à ré, lá conseguiam desandar e seguir para montante, a fim de proceder a nova amarração ou acostagem, ficando a aguardar por nova maré.
Finalizando, devo esclarecer, que o incidente acima relatado, não foi o único nas águas do Porto, em que foi utilizado o helicóptero para resgate dos náufragos. Os outros foram os seguintes: SILVER VALLEY, 16/02/1963, barra do Douro, que foi o primeiro salvamento em águas continentais Portuguesas e talvez dos pioneiros a nível mundial; FARMSUM, 04/11/1976, Castelo do Queijo; ILKA, 02/03/1978, cais de Gaia (cheia no rio); PENELOPE I, 30/03/1992, Aquário da Foz.
Rui Amaro